Pensamento não óbvio do
planejamento financeiro

Mais uma terça-feira à tarde e uma vista muito bonita da janela chamando para uma caminhada no concreto firme que a metrópole paulistana oferece.

A vida do “Euempresa” é uma jornada bem solitária, bem complexa, e cheia de aventura, uma hora predomina o chapéu do consultor, outrora chapéu do marketeiro (desculpa aí profissionais do Marketing), chapéu do vendedor e por aí vai.

A vida do consultor financeiro funciona atendimento por atendimento, em um longo processo de transformação, pois a vida é bem complexa.

Imagina colocar toda uma vida em uma planilha, fazer uma leitura bloco por bloco, e trazer uma real transformação da vida.

Hoje no meu momento “flow”, olhando pela janela, entre um atendimento e outro, e buscando novos jeitos de falar sobre o trabalho, dinheiro, vida real, ainda refletindo sobre a última interação, vou rabiscando textos com papel e caneta, sempre aprimorando como falar sobre uma vida financeira melhor, que faça sentido para você leitor.

A vida financeira é apenas mais um dos muitos pilares da vida, e os pilares precisam ser sólidos como a pedra. Enquanto levarmos a vida financeira no pensamento, estamos no final das contas, deixando esse pilar quase pouco ou quase nada sólido. Explico:

Quando levamos as grandes questões financeiras somente no pensamento, na prática, estamos deixando de trazer no papel essas questões, e isso significa que não estamos priorizando esse pilar, logo, deixamos de observar os detalhes.

Assim como uma pessoa escritora, uma pessoa jogadora de xadrez, ou uma pessoa desenvolvedora, o ato de trazer pra fora aquilo que ronda os pensamentos, faz com que estejamos estimulando nosso raciocínio, e isso é um ponto crucial para podermos organizar as ideias.

Então, a desculpa de sentar a mesa para começar um plano, é na verdade uma forma de trazermos todas as ideias na cabeça para o papel, ou como muita gente (acha que) gosta, trazer para a planilha aquilo que pensamos sobre vida financeira.

Trazer na planilha informações sobre vida financeira pode ser uma das etapas dessa transição dos pensamentos para o mundo real, mas está longe de ser a etapa final ou fundamental.

A planilha na melhor das intenções, ajuda na organização das ideias em sua forma racional, mas existem elementos até mais importantes nesse processo, como por exemplo o foco, a interpretação dessas informações e como será a vida dali em diante, com essas descobertas.

Um dos papeis de um profissional que se diz planejador financeiro, passa então, por ser essa pessoa que vai poder ser um facilitador no processo de planejamento financeiro, alinhando isso com variáveis quase que exclusivas. E aqui vai um grandessíssimo parênteses:

Para os mais diversos seres humanos que já interagi sobre vida financeira, as variáveis sempre serão cruciais, pois isso que engrandece o ser, sua complexidade única.

Seu hobbie estranho de comprar miniatura de animais de pelúcia será uma variável considerável, assim como a pessoa que toda semana precisa comer bolo de caçarola na padaria de São Vicente nas quartas à tarde também deverá ser considerado nessa transição.

O planejamento que transcende o pensamento, precisa além de fazer parte do seu contexto, traduzir em ações práticas para você, ou seja, precisa ter consciência das suas ações no dia-a-dia que impactam nesse planejamento.

Tudo isso para chegarmos mais próximos das escolhas que estamos priorizando no dia-a-dia e alinhar isso com os objetivos de vida que temos.

Agora que consegui extrair alguns dos meus pensamentos para chegar nesse texto, dedicando tempo de concentração e tempo para estruturar esse pensamento, além da trazer contextualização para todos chegarem na mesma página, agora vamos ao ponto fundamental desse conteúdo.

Você que teve a paciência de ler até aqui, vou trazer um exemplo prático de porque a maior parte dos conteúdos de educação financeira compartilhado com você, via redes sociais, Youtube e Google não tem feito muito sentido na sua vida real.

Porque fazem os vídeos virais (faça milhão com 50 reais)?

Pega um problema comum entre diversas pessoas (falta de dinheiro), mostre uma solução prática (ainda que improvável) para resolver esse problema, coloque elementos que culpabiliza o individuo (mindset), e ofereça uma oportunidade de um atalho (oferta de produtos e serviços).

O macete acima remete ao óbvio que a maioria dos influencers de finanças (e no geral) querem te levar, sempre que a solução parece óbvio demais, na verdade eles estão ocultando tudo aquilo que é não óbvio.

Alguns dos conteúdos de grande alcance trazem consigo elementos que mais trazem angustia e desanimo ao expectador, do que efetivamente uma avaliação que permita ações e soluções práticas para seu dia-a-dia, isso é uma estratégia, não são elementos soltos.

Um exemplo (óbvio) são alguns dos videos do parente rico, algumas das suas soluções e formas de resolver os problemas, principalmente relacionado ao dinheiro, ele carrega nessa solução “apenas” uma visão do individuo dele de lidar com as coisas, ignorando totalmente quaisquer variáveis individualizadas e complexas de outros seres e de ambientes.

Por isso, na maior parte das vezes, você ficará frustrado de não conseguir colocar em prática as soluções propostas nesses vídeos e conteúdos feitos para alcance massivo.

Um conteúdo que ignora totalmente contextos e indivíduos, mas que mostra produtos e serviços que “poderão” resolver problemas nos mais variados contextos.

Será que faz sentido isso?

Então porque existe esse tipo de conteúdo?

Todo tipo de conteúdo em que a comunicação é feita para o maior número de pessoas, dificilmente fará sentido para contextos individualizados. O conjunto de variáveis que deram certo para uma pessoa, ou grupo de pessoas, nunca será garantia de aplicação pra você.

Isso acontece porque a maior parte das “soluções oferecidas” foram embaladas para situações que não foram criadas a partir do pensamento e dos problemas reais da maior parte das pessoas, e sim foram criadas para serem comercializadas de forma mais prática e economicamente vantajoso para o vendedor.

Perceba como soa exagerado a maior parte dos exemplos e situações utilizados em vídeos de grande alcance, e você em um primeiro momento se sente até culpado por não conseguir o objetivo ou as soluções que esses vídeos oferecem.

Eu só acredito em uma vida financeira transformada quando a pessoa transformada foi legitimamente escutada antes do desenho do planejamento ou do plano a ser executado, é muito difícil um produto embalado considerar as complexidades individuais que você, eu e todos nós carregamos da vida trilhada até aquele capítulo.

Nunca avançamos tanto em pesquisas comportamentais e cada vez mais temos a certeza que tomamos pouquíssimas (pra não dizer nenhuma) decisões racionais, não somos robôs, e nem queremos ser.

Inclusive, sem medo de errar, eu fui extremamente equivocado, já trilhando na carreira de planejador financeiro, quando acreditei que ter a planilha colorida ou o método abcd era algo fundamental para o processo de transformação financeira e levei muita gente nesse caminho, certamente trazendo mais frustração em pessoas que precisavam apenas de uma boa escuta.

 

Certamente, muitas dessas pessoas abandonaram a planilha e muitas ainda se sentem culpadas por não entender alguns conceitos. Uma alma que pode ter se distanciado de uma transformação real.

Já que exercitei bem meu raciocínio com esse texto de hoje, gostaria de pedir pra você uma ação prática nesse momento.

Faça esse exercício de trazer no papel o que, de fato, vem trazendo preocupação para sua vida financeira, e quais são os desafios financeiros que você gostaria de endereçar nos próximos meses, um por vez.

Apesar de muito difícil, busque uma rede de apoio para conversar, não precisa em um primeiro momento, um profissional ultra qualificado, busque alguém que tenha uma conversa sem julgamento, que você tenha um alto grau de confiança, uma boa conversa te leva a lugares nunca explorados.

Será um prazer conversar com você o não óbvio do planejamento financeiro.

Nota: outro momento entre atendimentos… uma boa soneca da Madona.

 

Até a próxima pessoal!

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